Nas Ondas do
Rádio
REMINISCÊNCIAS
(Parte II, 9)
Um
fato que desafiara os segmentos da sociedade contemporânea foi a invasão das
seitas religiosas nos meios de comunicação. O tema serviria, nos últimos anos,
de estudos para cientistas sociais, psicólogos e ensaístas. Eles trabalham,
dentro de sua ótica, para entender e explicar a dose de anestesia de pessoas
geralmente humildes, assalariadas, baixo nível de instrução, moradores de
bairros pobres e vivendo em condições precárias, que eram (ou ainda são) as principais
vítimas dos falsos pastores. Na época, alguns desses ‘líderes’ rezavam pela
mesma cartilha do bispo Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus.
Dono de emissoras de rádio e televisão – a Record foi
comprada em 1989 por 45 milhões de dólares – o bispo Macedo ganharia as
primeiras páginas dos jornais e revistas do país depois do episódio do
Maracanã, em abril de 1990, de onde fugira levando sacolas de dinheiro, contribuições de abnegados fiéis. Por esse Brasil afora, certo
grupo deixou de saber que, naquela Sexta-Feira Santa, uma senhora acometida de
enfarto morrera por omissão de socorro.
Com o incidente, coisas comprometedoras envolvendo a seita viriam
a público, robustecendo o grau de fanatismo que essas movimentos
imprimiam a seus adeptos. As estripulias do religioso foram contadas em matéria
de capa da Veja e também no Globo Repórter. Nesse programa de televisão, o
bispo mostrava a face do seu cinismo. Não se desfazia dos óculos, mas
aconselhava os devotos a se livrarem deles, jogando-os fora, ‘pois seriam
beneficiados pelo milagre de não precisar usá-los’.
FRANCA E RISONHA
Vai longe o tempo em que o ouvinte de rádio só conhecia em
termos de manifestação religiosa a Oração da Ave-Maria, do Júlio Louzada (*).
Era um período romântico em que prevaleciam os ideais de uma escola franca e risonha,
época
em que a televisão ainda não havia chegado ao Brasil. A Rádio Nacional
com suas novelas, programas de auditório e humorismo detinha as atenções do público
de todo o país. O transístor, uma invenção americana, ainda era um projeto.
Daquele tempo aos anos da década seguinte, as coisas mudaram
muito. A televisão, ‘máquina de fazer doido’, segundo Stanislaw Ponte Preta – o
inesquecível Sérgio Porto – evoluiu e, até filhote concebeu, o videocassete
(que daria lugar ao DVD). O sistema de comunicação social progrediu, e o rádio,
por uma contingência natural, adotou outra concepção. Criou uma linguagem
moderna, mais dinâmica, centrada no jornalismo e na prestação de serviços,
características observadas no AM.
UM DEUS PARA TODOS
O que Júlio Louzada fazia às 6 horas da tarde no rádio (um
tempo na Tamoio, outro na Tupi) representava então um modelo único. Outros
radialistas o seguiram anos mais tarde, conscientes da necessidade de se destinar
alguns momentos para a reflexão. Lembrar, afinal, que um Ser todo-poderoso rege
o universo de nossas vidas. Os disc-jockays (ou animadores de estúdio), hoje
comunicadores, aderiram aos momentos de preces em seus programas, entre eles,
Paulo Giovanni, Roberto Figueiredo e Francisco Carioca.
Pelos anos 60 surgiria Alziro Zarur com ‘A sopa dos pobres’,
espécie de chamariz de sua Legião da Boa Vontade, LBV. Zarur lançara o
movimento ao assumir o controle acionário da Rádio Mundial, antes sob o domínio
de Vítor Costa, com o nome de Rádio Clube do Brasil. Por algum tempo, a
emissora estivera arrendada ao jornalista Samuel Wainer, fundador da Última
Hora.
Utilizar-se de uma estação de rádio para a difusão religiosa
e assistencial, fora um pioneirismo de Alziro Zarur. A invasão das seitas,
disseminada nos anos 80, seria um fato comum nas pequenas emissoras em
condições de alçarem voos próprios. Década marcada pela crise
político-econômica e social do país. Em decorrência disso, elas passariam a
vender horários para as congregações, de um modo geral, privilegiadas com mais
recursos que alguns anunciantes.
AS PIONEIRAS DIVINAIS
No Rio de Janeiro, até meados dos anos 90, destinavam espaço
às seitas religiosas as rádios Guanabara, Tamoio, Relógio e Record (ex-Ipanema),
privatizada pela Rádiobras no governo Sarney. Do mesmo segmento (AM) e
inteiramente religiosas a Copacabana, Metropolitana, Boas Novas e Brasil –
ex-Jornal do Brasil, comprada por um pastor com mandato de deputado, repassada
a outro em forma de arrendamento e, posteriormente integrada ao grupo liderado
pela LBV. Por último, a Capital filiada
a uma rede de emissoras a serviço dos pentecostes.
A Melodia FM, de propriedade do mesmo controlador inicial da
JB AM foi, oficialmente, a primeira no gênero. Seria seguida pela El Shaddai,
cujo dono também era um pastor-deputado, por muitos anos detentor da velha
Metropolitana, transferida mais tarde ao
empresário Paulo Masset. A mais desprovida de recursos, Rio de Janeiro,
contaria com as contribuições de fiéis para divulgar a doutrina espírita.
Catedral FM, a mais nova até então, representava o catolicismo, administrada pela Arquidiocese do Rio.
(*) Júlio Louzada morreu em outubro de 1993, aos 72 anos. A
Oração da Ave-Maria de que era titular na Tupi formava, no Rio, com No Mundo da
Bola, noticiário esportivo da Nacional, a dupla de mais antigos programas do
rádio brasileiro.
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Ondulantes.Com
/o Consagrado na Rádio Nacional, onde manteve o Musishow por
mais de 30 anos, Cirilo Reis agora faz parte da equipe de comunicadores da
Roquette Pinto (94,1). Seu programa, Túnel do Tempo, ganhou horário novo no
domingo (7). Em vez de 9h ao meio-dia, vai das 7h às 10h. Incrível a audiência
interativa dele.
/o Na Super Tupi há 28
anos, cinco mandatos de deputado estadual, Pedro Augusto, o Romeiro de
Aparecida, deixou de atuar diariamente, concentrando-se aos domingos, das 8h às
10h. (Estreiou no início da semana). Eleito deputado federal, limita-se a um quadro de oração no Cidinha Livre, esticado de 13h às 15h.
/o Misto de informações sobre os fatos que acontecem no
Estado, intermediando músicas com
prestação de serviços, assim é O Rio em Pauta.
Apresentação da mais popular
repórter do veículo, a ex-global Ermelinda Rita. De 9h às 11h, dentro das
recentes modificações feitas pelos novos gestores da estatal.