REMINISCÊNCIAS
(Parte II, 3)
O programa de Renato Murce, Piadas do Manduca, lançado pela
Rádio Clube do Brasil, era chamado de Cenas Escolares. A mudança de nome e
enfoque deveu-se a reclamações do professorado, que se incomodava com a maneira
que ele retratava o dia-a-dia da classe. A fase de maior sucesso ocorreria na
Rádio Nacional. Além do autor, os intérpretes eram Brandão Filho, Lauro Borges
e Castro Barbosa. Os dois últimos, em voo solo – criadores do PRK-30 – mudariam
para a Mayrink Veiga e nela ficariam até 1945, de onde iriam para a Nacional.
Em 1956, trocaram mais uma vez de prefixo, ingressando na Record.
UM PROJETO NOVO
Nesse ano a Nacional colocaria em prática um projeto que vinha adiando. O horário vago com a
saída de Borges e Barbosa seria ocupado pelo Balança Mas Não Cai, de Max Nunes,
com narração de Afrânio Rodrigues e a participação de um numeroso cast de
comediantes. No programa, dois anos mais tarde, incorporava-se um quadro de
muita repercussão – O Primo Rico e o Primo Pobre, idealizado por Paulo
Gracindo, que contracenava com Brandão Filho. Dono de uma versatilidade
incrível, Brandão também se destacaria como personagem-chave da série escrita
por Giusseppe Ghiaroni, Tancredo e Trancado, um memorável programa apresentado
aos domingos ao anoitecer. Brandão era o Tancredo, e o Trancado, Apolo Correa.
Outra dupla de destaque foi Alvarenga e Ranchinho, com
passagens pela Nacional e Tupi. De brilho intenso também, o humorista Silvino
Neto. O Hotel da Pimpinela, habitado por uma galeria de personagens, explorava
a fundo os acontecimentos políticos. Silvino se assemelhava ao Nhô Totico
(Vital Fernandes da Silva) de São Paulo, que fazia uma variedades de tipos e
personagens e a sonoplastia de seus programas. Teve atuações em diversas
emissoras, ficando mais tempo na Rádio Cultura.
PERTO DOS ÍDOLOS
Os anos 30, 40 e 50 proporcionariam oportunidades para o
público de auditório conhecer os seus ídolos. Na Rádio Kosmos, de São Paulo,
ocorreram as primeiras manifestações, onde se instalava um salão de baile e,
exibições de orquestras, ao vivo. Na Rádio Nacional, o Caixa de Perguntas, do
Almirante, era um modelo. Havia, na década de 40, o preconceito da classe média
contra esses programas. As donas de casa, segundo o crítico José Ramos
Tinhorão, se irritavam ao ouvir aquele alarido no rádio, especialmente as que
precisavam de uma empregada doméstica. Elas achavam, por isso, que o local era
para pessoas que não tinham o que fazer.
Em 1943, depois de uma parada na Mayrink Veiga, o Trem de
Alegria, de Heber de Bôscoli e Iara Sales, estacionaria na gare da Nacional.
Lamartine Babo, que dele era componente, intitulava o grupo de ‘Trio de Osso’,
numa comparação irônica ao Trio de Ouro, formado por Herivelto Martins, Dalva
de Oliveira e Nilo Chagas. Heber e Iara se tornaram mais populares ainda com A
Felicidade Bate à sua Porta – ele de algum lugar da rua, ela transmitindo do
estúdio. (Iara se desmanchava em zelo com o marido e, pelo microfone,
recomendava que ele não esquecesse de usar a boina, pois Heber tinha sérios
problemas de asma). O programa, no entardecer dos domingos, era apresentado
antes do Tancredo e Trancado. Um show musical A Felicidade... fazia distribuição de prêmios aos ouvintes
consumidores de sabão e outros produtos de limpeza da União Fabril Exportadora.
CAVANDO AS RAÍZES
A origem dos programas de auditório remete aos de calouros.
Os primeiros foram apresentados por Celso Guimarães na Rádio Cruzeiro do Sul
paulista e, Ary Barroso, na Kosmos. O de Ary, Calouros em Desfile, passaria
também pela Cruzeiro do Sul {carioca}, mas ganharia muita fama na Tupi, do Rio.
Ary foi o descobridor de Paulo Gracindo, entre tantos valores e, responsável pela
ascensão deste como animador de auditório. Essa história Gracindo contaria a
Luiz Carlos Saroldi e Nei Hamilton num especial da Rádio Jornal do Brasil. Por
causa do futebol, Ary faltava muito ao programa, que era das 8h às 9h da noite.
Faltava, principalmente, quando o Flamengo perdia. Então, recomendava à direção da emissora que escalasse o ator.
Gracindo desempenhava muito bem a função, do que acabou gostando. Exatamente na
Tupi nasceria o programa a que ele emprestava o nome, que anos depois mudaria
de prefixo. Anteriormente, Gracindo comandava o Rádio Sequência G-3, audição
diária na hora do almoço.
O seu programa ficaria 21 anos na Rádio Nacional, e era uma
miscelânea de tudo que havia de melhor na emissora. Em sua etapa inicial a
comicidade estava a cargo de Manuel de Nóbrega e Silvino Neto, a contra-regra
com Jorge Veiga (que aspirava ser cantor e vivia pedindo uma oportunidade) e,
na corretagem de anúncios, nada menos que Abelardo Barbosa, que viria a ser o
famoso Chacrinha da TV. Com o programa do Gracindo, aos domingos de 10h ao
meio-dia, disputavam a preferência do público, o de César de Alencar, das 3h da
tarde às 7h da noite, e o de Manuel Barcelos, às quintas-feiras, de 11 da manhã
à uma da tarde. No de César, a rivalidade entre as cantoras Emilinha Borba e
Marlene, circunscrita ao domínio dos fãs-clubes.
OUTROS CAMINHOS
Os novos rumos do rádio se descortinavam na década de 40.
Vieram os filões, e a radionovela que se popularizaria rapidamente. Seu
antecedente ocorrera na Record –as peças de 50 minutos de duração sob o título
geral de Teatro Manuel Durães. O gênero, na Mayrink Veiga, chamava-se Teatro
Pelos Ares, dirigido por Cordélia Ferreira. Em São Paulo, o sucesso das novelas
obrigava a utilização de uma viatura dos Correios para o transporte de cartas
destinadas aos atores e autores. Oldemar Ciglione, Ênio Rocha, Arlete
Montenegro, Nilva Aguiar e Walter Forster, entre outros, provocavam os suspiros
das domésticas. No Rio, nos anos 50 a Nacional chegava a ter 16 novelas em
cartaz. De Em Busca da Felicidade a O Direito de Nascer (quase um ano no ar),
os locutores apregoavam sempre: ‘E ouçamos mais um emocionante capítulo de...’
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Ondulantes.Com
O vestido azul que um professor presenteara aluna pobre
alterou a vida de uma comunidade. Pintura de otimismo esse quadro Moral da
História, no Programa Roberto Canazio, na Super Rádio Tupi, neste sábado
(23). /o Em meio a uma playlist de números conhecidos, Alexandre Tavares conduz
o Painel JB, 1ª Edição, das 7h às 9h das manhãs de 2ª a 6ª feiras. Boa opção
para quem quer saber das últimas em tempo curto.
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