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sábado, 23 de janeiro de 2021

Nas Ondas do Rádio

 

REMINISCÊNCIAS (Parte II, 3)

Antes de se especializar em novelas, a Rádio São Paulo tinha no humorismo um dos pontos de atração. Ariovaldo Pires, o Capitão Furtado, que também atuaria na Educadora, era o nome mais importante do elenco. Cascatinha do Genaro, que ele criou e apresentava, foi um programa de muita popularidade. Em todos os tempos, a situação política fornecia subsídios para o humorismo no rádio e, marco desse gênero, inegavelmente, o PRK-30, de Lauro Borges e Castro Barbosa. Na década de 30 é que surgiriam os primeiros programas e, Dino Cartopacci com o Zé Fidélis, um exemplo disso.

O programa de Renato Murce, Piadas do Manduca, lançado pela Rádio Clube do Brasil, era chamado de Cenas Escolares. A mudança de nome e enfoque deveu-se a reclamações do professorado, que se incomodava com a maneira que ele retratava o dia-a-dia da classe. A fase de maior sucesso ocorreria na Rádio Nacional. Além do autor, os intérpretes eram Brandão Filho, Lauro Borges e Castro Barbosa. Os dois últimos, em voo solo – criadores do PRK-30 – mudariam para a Mayrink Veiga e nela ficariam até 1945, de onde iriam para a Nacional. Em 1956, trocaram mais uma vez de prefixo, ingressando na Record.

 

UM PROJETO NOVO

Nesse ano a Nacional colocaria em prática um projeto   que vinha adiando. O horário vago com a saída de Borges e Barbosa seria ocupado pelo Balança Mas Não Cai, de Max Nunes, com narração de Afrânio Rodrigues e a participação de um numeroso cast de comediantes. No programa, dois anos mais tarde, incorporava-se um quadro de muita repercussão – O Primo Rico e o Primo Pobre, idealizado por Paulo Gracindo, que contracenava com Brandão Filho. Dono de uma versatilidade incrível, Brandão também se destacaria como personagem-chave da série escrita por Giusseppe Ghiaroni, Tancredo e Trancado, um memorável programa apresentado aos domingos ao anoitecer. Brandão era o Tancredo, e o Trancado, Apolo Correa.

Outra dupla de destaque foi Alvarenga e Ranchinho, com passagens pela Nacional e Tupi. De brilho intenso também, o humorista Silvino Neto. O Hotel da Pimpinela, habitado por uma galeria de personagens, explorava a fundo os acontecimentos políticos. Silvino se assemelhava ao Nhô Totico (Vital Fernandes da Silva) de São Paulo, que fazia uma variedades de tipos e personagens e a sonoplastia de seus programas. Teve atuações em diversas emissoras, ficando mais tempo na Rádio Cultura.

 

PERTO DOS ÍDOLOS

Os anos 30, 40 e 50 proporcionariam oportunidades para o público de auditório conhecer os seus ídolos. Na Rádio Kosmos, de São Paulo, ocorreram as primeiras manifestações, onde se instalava um salão de baile e, exibições de orquestras, ao vivo. Na Rádio Nacional, o Caixa de Perguntas, do Almirante, era um modelo. Havia, na década de 40, o preconceito da classe média contra esses programas. As donas de casa, segundo o crítico José Ramos Tinhorão, se irritavam ao ouvir aquele alarido no rádio, especialmente as que precisavam de uma empregada doméstica. Elas achavam, por isso, que o local era para pessoas que não tinham o que fazer.

Em 1943, depois de uma parada na Mayrink Veiga, o Trem de Alegria, de Heber de Bôscoli e Iara Sales, estacionaria na gare da Nacional. Lamartine Babo, que dele era componente, intitulava o grupo de ‘Trio de Osso’, numa comparação irônica ao Trio de Ouro, formado por Herivelto Martins, Dalva de Oliveira e Nilo Chagas. Heber e Iara se tornaram mais populares ainda com A Felicidade Bate à sua Porta – ele de algum lugar da rua, ela transmitindo do estúdio. (Iara se desmanchava em zelo com o marido e, pelo microfone, recomendava que ele não esquecesse de usar a boina, pois Heber tinha sérios problemas de asma). O programa, no entardecer dos domingos, era apresentado antes do Tancredo e Trancado. Um show musical A Felicidade...  fazia distribuição de prêmios aos ouvintes consumidores de sabão e outros produtos de limpeza da União Fabril Exportadora.

 

CAVANDO AS RAÍZES

A origem dos programas de auditório remete aos de calouros. Os primeiros foram apresentados por Celso Guimarães na Rádio Cruzeiro do Sul paulista e, Ary Barroso, na Kosmos. O de Ary, Calouros em Desfile, passaria também pela Cruzeiro do Sul {carioca}, mas ganharia muita fama na Tupi, do Rio. Ary foi o descobridor de Paulo Gracindo, entre tantos valores e, responsável pela ascensão deste como animador de auditório. Essa história Gracindo contaria a Luiz Carlos Saroldi e Nei Hamilton num especial da Rádio Jornal do Brasil. Por causa do futebol, Ary faltava muito ao programa, que era das 8h às 9h da noite. Faltava, principalmente, quando o Flamengo perdia. Então, recomendava à  direção da emissora que escalasse o ator. Gracindo desempenhava muito bem a função, do que acabou gostando. Exatamente na Tupi nasceria o programa a que ele emprestava o nome, que anos depois mudaria de prefixo. Anteriormente, Gracindo comandava o Rádio Sequência G-3, audição diária na hora do almoço.

O seu programa ficaria 21 anos na Rádio Nacional, e era uma miscelânea de tudo que havia de melhor na emissora. Em sua etapa inicial a comicidade estava a cargo de Manuel de Nóbrega e Silvino Neto, a contra-regra com Jorge Veiga (que aspirava ser cantor e vivia pedindo uma oportunidade) e, na corretagem de anúncios, nada menos que Abelardo Barbosa, que viria a ser o famoso Chacrinha da TV. Com o programa do Gracindo, aos domingos de 10h ao meio-dia, disputavam a preferência do público, o de César de Alencar, das 3h da tarde às 7h da noite, e o de Manuel Barcelos, às quintas-feiras, de 11 da manhã à uma da tarde. No de César, a rivalidade entre as cantoras Emilinha Borba e Marlene, circunscrita ao domínio dos fãs-clubes.

 

OUTROS CAMINHOS

Os novos rumos do rádio se descortinavam na década de 40. Vieram os filões, e a radionovela que se popularizaria rapidamente. Seu antecedente ocorrera na Record –as peças de 50 minutos de duração sob o título geral de Teatro Manuel Durães. O gênero, na Mayrink Veiga, chamava-se Teatro Pelos Ares, dirigido por Cordélia Ferreira. Em São Paulo, o sucesso das novelas obrigava a utilização de uma viatura dos Correios para o transporte de cartas destinadas aos atores e autores. Oldemar Ciglione, Ênio Rocha, Arlete Montenegro, Nilva Aguiar e Walter Forster, entre outros, provocavam os suspiros das domésticas. No Rio, nos anos 50 a Nacional chegava a ter 16 novelas em cartaz. De Em Busca da Felicidade a O Direito de Nascer (quase um ano no ar), os locutores apregoavam sempre: ‘E ouçamos mais um emocionante capítulo de...’

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Ondulantes.Com 

O vestido azul que um professor presenteara aluna pobre alterou a vida de uma comunidade. Pintura de otimismo esse quadro Moral da História, no Programa Roberto Canazio, na Super Rádio Tupi, neste sábado (23). /o Em meio a uma playlist de números conhecidos, Alexandre Tavares conduz o Painel JB, 1ª Edição, das 7h às 9h das manhãs de 2ª a 6ª feiras. Boa opção para quem quer saber das últimas em tempo curto.

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